quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Brasil e a falsa ideia de uma democracia cristalizada: patrimonialismo e clientelismo em foco.

Brasil e a falsa ideia de uma democracia cristalizada: patrimonialismo e clientelismo em foco.

Democracia é uma construção que está intrinsecamente ligada ao processo de conquista da cidadania, somada dessa forma, aos movimentos sociais da sociedade civil com o apoio inexorável da sociedade política e seus partidos representativos. Isto é, é uma dialética dos fatores mencionados. ‘’A democracia não é algo que possa ser obtido de forma definitiva, nem é uma solução milagrosa para a solução dos males das sociedades humanas, e, principalmente, não se limita aos processos eleitorais’’ ( DIAS, 2013,p. 174).


Se existe uma teia perigosa dentro da democracia brasileira é a ideia falseada da convivência entre sociedade e democracia ampla e indestrutível, pois, essa mesma teia que se alto afirma como protetora dos direitos conquistados é filha direta das raízes culturais amplificadas com os golpes civis militares do século XX – Estado Novo 1937 – 45 e a República dos Generais 1964/ 85.


Destarte, temos o gargalo fundamental como herança para distanciar nossas seguranças no que se refere à democracia ‘’solidificada’’, pois, somos filhos de concepções culturais que elevam para a máxima altitude nossos valores em direção a mentalidade patrimonialista / clientelista – agora numa dimensão estatizante -, que maximiza as relações corruptas microscópicas da camada política estruturada por ‘’eleitores favores’’ – aqui entram as instituições filantrópicas em todas as dimensões, a atividade comercial, os ditos administradores da justiça, as autarquias, bem como, a falta do ideal de justiça que cada indivíduo carrega como elemento fomentador dos direitos sociais.


A miséria do patrimonialismo – um dos maiores cânceres da nossa sociedade – foi enraizado nas nossas artérias como uma fita de DNA caracterizador de uma espécie endêmica, isto é, o nosso patrimonialismo é único, pois, já não é combatido até mesmo pelos formadores de opinião. Pois se apoderar da coisa pública é tão normal como o ato de respirar. Diríamos que é uma metástase na sociedade que enxerga o Estado como pai, prostituto barato, vilipendiado com condições de ser mais um dia de prostituição.


É isso, está no seio da família brasileira – independentemente de camada social – a seguinte cultura; estude, forme-se e não deixe as oportunidades passarem, pois, cavalo celado passa nas nossas frentes poucas vezes. Porém, o pior vem depois, isso de dizer ‘’cavalo celado’’ é o nosso dilacerado Estado que se encontra numa currutela a espera de um garimpeiro sedento por orgias.


Já o clientelismo moderno brasileiro se revelou com uma nova face a partir dos governos ditos democráticos, pois, esses gestores não conseguiram criar dispositivos para atenuar o que denomino de segundo tomar maligno do tecido social brasileiro, pois, encontramos essa prática nos projetos das estatizações ou não estatizações dos governos. Observa-se que quando o Estado sai do cenário econômico – como patrono – deixa seu rastro de ponto de ancoragem através das agências reguladoras, dessa forma, desencadeando uma espécie de microfísica do poder. Já no que se refere à relação Estado como patrono do clientelismo, pode-se dizer que chega a ser mesmo cínico o modelo de operação que os governantes utilizam para se perpetuarem no poder político. Ou seja, é a velha cultura toma lá da cá ou o que denominamos de eleitores favores – estrutura básica dos ordenamentos das instituições.


Em verdade, alguns os riscos da falsa ideia de uma democracia cristalizada – patrimonialismo e clientelismo - fragiliza a nossa evolução política – evolução no sentido amplo – deixando ao lado ideias, propostas e práxis que realmente fariam diferença na estrutura da sociedade brasileira para as próximas décadas.
Dessa maneira, pode dizer-se que nosso modelo democrático ainda tem que passar pela quebra - em cada um de nós – das formas de pensar e agir no nosso cotidiano, pois, caso o contrário estamos deixando uma herança tenebrosa para nossos filhos que já estão vivos e atraentes para servirem as práticas nojentas destruidora do processo democrático.



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