sábado, 21 de agosto de 2010

Erudição, um resgate necessário - parte II


Em maio de 2008 foi publicado no Jornal Agora Santa Inês - n° 320 o artigo com a temática em evidência onde tinha como principais eixos temáticos o exagero das ideologias defendidas dentro do nosso próprio território, assim como, a desqualificação da produção filosófico-científicas.
Ainda dentro dessa perspectiva, é relevante apontarmos para as posturas ideológicas do nosso território, como por exemplo, alguns exageros pseudos marxistas que afastam quaisquer possibilidades de ideias, valores, bens materiais que venha nos alimentar, ou melhor, é o que eles chamam de defesa anticolonialista. Vejam, será que   só a cultura gerada dentro do nosso espaço contribui para nossa sobrevivência? “Como afirma o Cientista Polítco e membro da Academia Brasileira de Letras Sérgio Paulo Rounet ‘‘será que a cultura autêntica não é alienada”? Isto é, se fizermos uma singela reflexão podemos dizer que José Saramago (poeta português) é tão relevante para a cultura brasileira como se tivesse nascido em Capanema - PA, o tecnobrega e o forró eletrônico são tão irrelevantes que podia ter sido gerado nos pilares da Universidade Sorbonne em Paris ou podíamos dizer que o Funk é irrelevante para São Luís - MA e as músicas produzidas por artistas da terra são tão mais instrutivas e deliciosas que poderíamos ouvi-las numa bela tarde de primavera- degustando uma boa pinga- às margens do Tamisa na Inglaterra. Partindo desse trocadilho podemos dizer que a ''cultura estrangeira é combatida por ser de fora e não por ser de massa. Inversamente a cultura brasileira é apoiada pelo mero fato de ser brasileira, por mais alienante que seja''( ROUNET, 1997,p.129).
Assim, é fundamental entendermos que nenhuma cultura sobreviveu sem abertura ou contato com outras culturas ( o antropólogo F. Barth nos chama atenção às fronteiras sociais,à sua criação e manutenção, a partir da constatação de que culturas e sociedades não configuram unidades fechadas,autocontidas,limitadas, também permitem lidar com o fluxo entre fronteiras, tanto fluxo de pessoal quanto de conhecimento). Isto é, o contato cultural não deve ser estanque apenas por motivos ideológicos no que se refere à postura colonizada versus colonizadores, porém, analisados a partir do entendimento entre o que é cultura mercadológica e o que é cultura erudita - deixando claro que a manifestação da chamada cultura popular é uma visão que a cultura erudita tem sobre ela, buscando elementos próprios da mesma e potencializando-a para uma tensão intelectualizada (o bumba-boi passa a ser apenas uma dimensão da cultura erudita).
No que refere - se ao eixo desqualificação da produção filosófico-científicas é bom saber que o irracionalismo pregado pelos defensores da denominada pós - modernidade  desqualifica os neomodernos, a partir, das argüições banalizadas de que tudo é cultura. Temos como exemplo, os próprios programas televisivos que elevam a cultura da periferia como uma resposta bem dada às camadas mais elevadas - no mínimo isso é um grande falseamento, pois, enquanto isso as camadas mais letradas criam um maior leque de conhecimento para competir no mercado. Ou melhor, se pegarmos o capital simbólico dessas camadas em questão verificamos o distanciamento no que se refere ao conjunto de conhecimento ( HOUAISS,apud ROUANET,p.87) '' toda língua culta tem hoje em torno de 400 mil palavras, enquanto nenhuma língua natural vai além de três a quatro mil palavras'' ( ter acesso a essas informações é uma condição necessária para que qualquer ser humano possa exercer o processo de cidadania ).
Sendo mais claro, podemos dá um belo SIM! a conquista da cultura periférica,desde que ela absorva, também, conhecimentos dentro do campo filosófico, literário,artístico e científico, pois, dessa forma, ela não vai ser ludibriada pelas amarras ou truques da ideologia de massa.
Dessa forma, fazer defesa aos aspectos eruditos é se posicionar contra a análise falseada em relativizar exageradamente o conceito de cultura, bem como, combater ideologias que fazem críticas a postura anticolonialista e antielitista. 




5 comentários:

  1. Parabens meu amigo !!!Vc realmente é um grande historiador!!Digo por que ja vivenciei essa historia de perto !!!Saiba que fazes a diferença.bjus

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  2. Quando possuímos o poder de interpretar e relatar nossas histórias e a história, esse é o momento em que nos encontramos em total liberdade, é a fuga da caverna de Platão, o inicio do encontro da realidade vivida com o nosso imaginário. É a arte pintada, lapidada ou escrita decodificada por nossas emoções.

    Feliz daquele que já amou e feliz também daquele que já suportou momentos de tristeza, pois esse carrega o peso da história individual e pode falar com altura e clareza:

    EU VIVI!

    obs: desejo sucesso para seu blog.

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  3. Conceituar é tarefa difícil, senão impossível, pois toda conceituação é incompleta e imperfeita; condensar em poucas palavras ou situações todo o conteúdo de idéias de um objeto ou de coisa é promover um conceito que sofre limitações na essência e/ou na forma.Assim, definir cultura seria como tal uma limitação. Mas, paradoxalmente posso definir que cultura não é ideologia massificada, não é apologias a ilicitude e muito menos a degradação física, moral e intelectual do ser humano. É lamentável vermos em nosso cotidiano as limitações retóricas, onde a simples articulação de uma frase em um conversação se torna impossível, sem a presenças dos “só, valeu, firme , etc” e vermos também a pseudolinguagem da internet que degrada a língua portuguesa. Não estamos falando aqui de linguagem coloquial ou até mesmo de uma porção de gírias, mas de uma total alienação do que ocorre ao seu redor. Concordo com o colega Fábio Freitas quando fala da necessidade de resgatar a “erudição”, aqui como sendo a cultura aberta ao conhecimento dentro do campo filosófico, literário,artístico e científico. Falemos de cultura erudita, falemos de cultura popular, falemos de cultura estrangeira e das fronteiras étnicas, pois não existe cultura pura, superior, isolada,inviolável, e a relativização é necessária. O que é maléfico, até fatal para a Cultura, são artimanhas criadas pelo mercado massificado que coloca como verdade a pirataria cultural.

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  4. Antonio Neto, o historiador tem um débito com as sociedades do passado,por isso, vivo metendo minhas mãos na geléia, para problematizarmos o trabalho dos historiadores do futuro uso processo sintético da contradição da contradição.


    obrigado!

    sempre faça suas críticas,pois, estou democratizando algumas arguições - coisa que estava sendo feita apenas para um pequeno público.

    abraços!

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  5. Deise, sei que és uma marxista, por isso,a sua visualização sobre cultura erudita sempre vai ser bem vida - principalmente quando busca inspirações nas premissas da escola crítica.

    obrigado pelas considerações...

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